24 Jun / Dianova apela para mais apoio para as pessoas com dependência de drogas e álcool!
Dianova junta-se à campanha #CareInCrisis da UNODC e pede aos governos, organizações internacionais, sociedade civil e todas as partes interessadas que implementem medidas urgentes para proteger as pessoas. A prevenção e o tratamento do consumo problemático de drogas devem ser reforçados.
Declaração Internacional da Dianova por ocasião do Dia Internacional contra o Abuso de Drogas e o Tráfico Ilícito, 26 de junho de 2022
As crises internacionais amplificam as desigualdades e afetam desproporcionalmente os mais vulneráveis ou marginalizados.
O mundo está em constante transformação e o equilíbrio internacional encontra-se cada vez mais ameaçado. À crise provocada pela COVID-19 e à guerra à porta da Europa – situações consideradas impensáveis há bem pouco tempo – somaram-se problemas globais tão grandes como as mudanças climáticas, os recentes conflitos no Iémen e em Mianmar e os novos populismos.
O impacto desproporcional do COVID em populações vulneráveis
Em muitos países, a aplicação das restrições causadas pela COVID-19 teve um impacto exponencialmente negativo nas populações mais vulneráveis.
De acordo com uma pesquisa realizada em 28 países pela Amnistia Internacional, essas medidas foram baseadas numa abordagem claramente punitiva. Muitas pessoas enfrentaram problemas com a Justiça por não cumprirem as medidas de saúde pública. Os grupos marginalizados sofreram um crescente assédio e violência por parte da polícia e de outras forças de segurança. Além disso, essa abordagem punitiva contribuiu para reduzir o acesso a serviços essenciais, como habitação, alimentação e saúde, aumentando o estigma pré-pandemia.
Estas consequências dramáticas não foram apenas generalizadas em países sem uma cultura de proteção dos direitos humanos – e a abordagem punitiva não tem sido a única responsável pelo impacto desproporcional da pandemia. As desigualdades estruturais também desempenham um papel importante. Nos EUA, por exemplo, nas comunidades afroamericanas verificaram-se níveis de mortes relacionadas com COVID19 até duas vezes superiores aos de outras comunidades. A comunidades de migrantes e refugiados também foram, em média, muito mais afetados pela crise da saúde, principalmente devido à falta de acesso a cuidados e às barreiras linguísticas. Muitos abstêm-se de procurar assistência médica por medo de serem considerados um “encargo público” e, portanto, passíveis de serem expulsos. Por fim, a situação da população reclusa foi muito agravada pela crise, devido à deterioração do estado de saúde e, mais especificamente, à superlotação generalizada das prisões que impossibilitou o distanciamento físico.
Impacto das restrições sobre as pessoas com comportamentos aditivos ou dependência
Em todo o mundo, a COVID-19 e as restrições impostas pelos Governos, tiveram um impacto negativo significativo na capacidade de as pessoas com comportamentos aditivos ou dependência terem acesso aos serviços de que necessitam. Em particular, serviços de prevenção e tratamento de comportamentos aditivos e dependência de droga e álcool por uso de substâncias, serviços de tratamento de comorbilidade (HIV-AIDS, Hepatite C, Tuberculose) e serviços de tratamento com agonistas opiáceos (tratamento de substituição).
As pessoas com problemas de dependência não são um grupo homogéneo e as consequências da pandemia afetaram principalmente os mais vulneráveis: sem abrigo, migrantes e refugiados, profissionais do sexo e pessoas com graves problemas de saúde mental.
Todas essas pessoas já vivem o isolamento social, a insegurança no trabalho e na habitação e a rejeição pelas próprias famílias.
Em alguns países, os serviços de prevenção e tratamento de comportamentos aditivos e dependências de drogas e outras substâncias foram encerrados ou suspenderam as admissões de novos pacientes. Terapêuticas de substituição de baixo limiar, distribuição de seringas e o acompanhamento psicossocial foram severamente restringidos devido ao distanciamento físico e porque não foram considerados serviços essenciais (mas na realidade devem ser considerados como tal!)
Em 2021, a situação melhorou graças à adaptabilidade dos serviços de atendimento das pessoas com problemas de dependência. Ressalte-se, no entanto, que desde o início da pandemia, a Dianova mantém seus serviços de atendimento abertos graças a medidas rigorosas destinadas a garantir a segurança de seus clientes e funcionários. Todos têm feito enormes esforços nesse sentido.
A emergência da proteção dos mais vulneráveis
A pandemia revelou enormes disparidades no acesso aos cuidados em todo o mundo. Os grupos e comunidades mais vulneráveis são desproporcionalmente afetados por esta e muitas outras doenças. Essas disparidades são particularmente gritantes quando se trata de pessoas com duplo diagnóstico (patologias mentais associadas ou não aos consumos).
Falhamos em fornecer a estas populações o apoio de que necessitam devido às abordagens punitivas que transformam consumidores em criminosos para conseguirem sustentar a sua dependência e o consumo abusivo de drogas e álcool.
Há agora evidências de que as abordagens punitivas às drogas são apenas injustas – elas incidem principalmente sobre as populações do centro das grandes cidades, os pobres e as minorias étnicas – sendo totalmente ineficazes.
Essas abordagens, que estão enraizadas há décadas e foram exacerbadas recentemente por medidas anti-COVID-19, não são inevitáveis, e é por isso que a Dianova pede uma estratégia e uma intervenção no âmbito da saúde pública para transtornos por uso de substâncias que se concentre nas necessidades de todos, incluindo os grupos mais vulneráveis.
Além disso, a Dianova junta-se à campanha #CareInCrisis do UNODC e pede aos governos, organizações internacionais, sociedade civil e a todas as outras partes interessadas que implementem medidas urgentes para proteger as pessoas. É fundamental fortalecer a prevenção e o tratamento dos comportamentos aditivos por uso de drogas.
A pandemia de COVID-19 e as consequências sociais e sanitárias das diversas crises em todo o mundo revelaram a necessidade premente de reafirmar e defender o direito universal à saúde e ao bem-estar. Como a Agenda 2030 enfatiza, um futuro mais justo e equitativo depende do nosso compromisso partilhado de “não deixar ninguém para trás”. Se quisermos construir um mundo em que todos tenham a oportunidade de alcançar o mais alto padrão possível de saúde e bem-estar, devemos agir pelos mais vulneráveis agora.
Os transtornos por uso de substâncias são um problema de saúde pública.
Os serviços de apoio às pessoas com problemas de dependência são essenciais.
Alguns dados relevantes:
– A comunidade negra de Chicago representa 30% da população da cidade, mas 52% dos casos de COVID (abril de 2020) e quase 70% das mortes ocorreram entre a população afroamericana. Essas comunidades geralmente sofrem de problemas de saúde “subjacentes” que têm sua origem em violência social. Isso causa maior vulnerabilidade ao contágio, enquanto a falta de recursos financeiros limita seu acesso aos cuidados de saúde.
– De acordo com o UNODC, a população mundial aumentou 21% entre 2000 e 2019, enquanto a população carcerária aumentou mais de 25%. Em maio de 2021, 550.000 detidos tinham sido infetados com COVID em 122 países.
– Nos EUA, por exemplo, mais de 300.000 pessoas estão encarceradas por crimes relacionados com drogas (em comparação com menos de 25.000 em 1980), embora sem qualquer impacto nos números de consumidores e de overdoses.
#Careincrisis #CuidarnasCrises ##WorldDrugDay