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04 Dez / Um colega silencioso: a violência contra mulheres no local de trabalho

Campanha “UNA-SE” 16 Dias de Activismo para Acabar com a Violência Contra as Mulheres

Agressão física, assédio sexual e abuso psicológico são as três formas de violência contra mulheres no local de trabalho. Todavia, a maioria das mulheres não reporta com receio de perder o seu trabalho ou sofrer represálias por parte dos agressores.

 

Um “colega” silencioso: a violência contra as mulheres no local de trabalho

 

De provocações sexistas à agressão física e abuso psicológico, a violência no local de trabalho é uma realidade que milhões de mulheres vivem constantemente em todo o mundo. Constitui não só uma das formas menos visíveis como ainda um inquestionável lugar comum em algumas empresas.

 

Nos últimos anos, 818 milhões de mulheres em todo o mundo com mais de 15 anos, equivalente a 35%, foram vítimas de violência física ou sexual em casa, na comunidade ou no local de trabalho.

 

Apesar de os homens também poder ser vítimas de situação de violência e assédio no local de trabalho, o sistema cultural patriarcal e os consequentes estereótipos e desigualdade de relações de poder são responsáveis pela maior exposição das mulheres a estes tipos de abuso.

Assédio Sexual

Uma das formas mais comuns de violência no local de trabalho é o assédio sexual. 74% a 75% das mulheres com formação superior ou que ocupam posições de liderança sénior ter sido vítimas de violência em algum momento das suas vidas, in Agência da União Europeia para os Direitos Fundamentais (FRA).

 

O estudo salienta de entre as razões para a ocorrência destes actos:

  1. Os ambientes de trabalho e exposição a situações em que existe um maior risco de agressão;
  2. A falta de consciência entre as mulheres profissionais do que é considerado assédio sexual.

 

Este tipo de abuso pode ocorrer de duas formas.

  1. A primeira é conhecida como “quid pro quo” (do Latim “tomar uma coisa por outra”) e ocorre quando a um trabalhador é pedido um acto sexual que, se negado, pode ser prejudicial para a sua situação profissional.
  2. A outra forma de assédio sexual é causada por um ambiente laboral hostil em que o tratamento da vitima pode ser intimidante ou humilhante.

 

Contudo, muito poucas mulheres ousam falar sobre ou reportar casos de assédio, a grande maioria por receio de perder os seus empregos. Segundo o relatório da FRA, 32% de 42.000 mulheres entrevistadas no estudo de violência de género de 2014 afirmaram que o agressor era um colega, supervisor ou cliente. Todavia, apenas 4% reportaram a situação ao seu empregador ou superior.

 

Em Espanha, por exemplo, 2.484 mulheres apresentaram queixa entre 2008 e 2015 por este motivo, de acordo com dados da União Geral de Trabalhadores Espanhola. Contudo, apenas 49 homens (2%) foram sentenciados.

Violência e assédio no local de trabalho

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (ILO), o fosso salarial atingiu os 23% em todo o mundo. Associado ao assédio maternal que ocorre quando uma mulher é levada a sentir-se desconfortada acerca da sua gravidez, o nascimento do filho ou de problema de saúde relacionado, são indicadores de alarme da desigualdade e violência no local de trabalho.

 

A Organização Mundial de Saúde (WHO) define violência e assédio no local de trabalho como “aqueles incidentes em que a pessoa é sujeita a abuso, ameaças ou ataques em circunstâncias relacionadas com o seu trabalho, incluindo no trajecto entre casa e o trabalho, com a implicação de que a sua segurança, bem-estar e saúde são implícita ou explicitamente ameaçadas”.

 

É, portanto, necessário que as empresas e os sindicatos implementem iniciativas de consciencialização entre os trabalhadores acerca da realidade da violência e do assédio contra as mulheres no local de trabalho. Saberão assim reconhecer, prevenir e agir caso necessário, e ainda encorajar os pares a reportar os casos.

Tipos de violência no local de trabalho e quem a comete

Violência contra mulheres no local de trabalho

 

 

A agressão física, assédio sexual e abuso psicológico constituem as três formas de violência no local de trabalho. A última, também conhecida como mobbing, é caracterizada por assédio sistemático, dano de reputação da vítima, isolando-a, dando-lhe tarefas improdutivas ou não relacionadas com a sua função e impondo prazos impossíveis.

 

Mas o assédio não vem apenas dos supervisores ou de posições superiores. Geralmente, qualquer pessoa pode ser autora de actos de violência e assédio, quer vertical quer horizontalmente, podendo ainda surgir de fontes externas. De facto, os estudos demonstram que o abuso por parte de colegas é um dado comum e em menor grau por parte de subordinados.

 

Eis alguns dos exemplos de uma diversidade de acções que constituem assédio e violência no local de trabalho:

> Provocações, ameaças, desrespeito, gritos, comentários degradantes ou obscenos, difamações;

> Desacreditação profissional;

> Não deixar a vítima pronunciar-se;

> Imitar a forma como caminham ou falam;

> Danificar pertences;

> Minimizar esforços;

> Excessivo controlo das horas de expediente;

“Sorri, ficas mais bonita”

Há uma espécie de violência que pode ocorrer no local de trabalho que é caracterizada por passar desapercebida: os “micromachismos”.

Para o psicólogo argentino Luis Bonino, que cunhou o termo no início dos anos 90, são “atitudes de dominação suave ou de baixa intensidade (…)

  1. São especificamente formas hábeis de controlo, subtil ou insidioso, comportamentos repetitivos e quase invisíveis perpetrados por homens”;
  2. Exemplos claros são as frases “Sorri, ficas mais bonita” ou “A lugar da mulher é em casa”.

 

Adicionalmente, como refere o especialista, é uma forma de discriminação contra a mulher. Exemplos comuns em que prevalecem os “micromachismos” no local de trabalho:

  1. Quando uma empresa opta por candidatos masculinos para uma posição em particular;
  2. Quando numa reunião a proposta de uma mulher é ignorada em detrimento de um seu colega masculino que sugere a mesma coisa.

O impacto na Igualdade de Género

Contudo, este tipo de comportamento “normal” na sociedade cria um problema maior: trava a igualdade de género.

Sobre este ponto, o Fórum Económico Mundial (WEF) prevê que ao ritmo actual alcançar a igualdade económica entre homens e mulheres no local de trabalho leve 217 anos.

Esta previsão sombria é o reflexo do progresso lento a nível da igualdade de emprego. Globalmente apenas 54% das mulheres fazem parte da economia formal, enquanto que os homens “reinam” com 81%, de acordo com o Gender Gap Report 2016 do WEF.

Impacto na saúde da vítima

A violência e o assédio, sexual ou moral, surgem nos locais de trabalho em que:

  1. Predominam as relações de poder desiguais,
  2. Os processos organizacionais são deficientes
  3. A cultura corporativa está contaminada por relações interpessoais pobres.
  4. Adicionalmente, outras circunstâncias externas podem afectar os ambientes de trabalho tais como crises políticas, sociais ou económicas.

 

Todavia, as consequências destes abusos deixam na maioria das vezes cicatrizes profundas nas vítimas e causam uma forte deterioração na saúde mental e física, requerendo terapia e reabilitação especializada.

Alguns dos problemas que têm um impacto negativo na performance laboral:

  1. Ansiedade, depressão, ataques de pânico, distúrbios de sono, dores de cabeça,
  2. Distúrbios cognitivos relacionados com memória e atenção,
  3. Sentimentos de vulnerabilidade e dificuldades em estabelecer relações, entre outros.

 

Assim, para combater a violência no local de trabalho, é necessário primeiro reconhecer que ela ocorre. A empresa implementar medidas correctivas ou protocolos de acção para evitar situações de risco.

Se às mulheres fosse dado o mesmo tratamento que aos homens e uma participação equitativa no mercado de trabalho, um relatório do Fundo Monetário Internacional (IMF) previa em 2013 que o PIB em alguns países subiria em 34%. Como tudo seria tão diferente!

#OrangeTheWorld #16days

Autoria: Ignacio Torres, Jornalista, Dianova International

 

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